Patrono-Mor

Patrono-mor da Academia Gloriense de Letras

Nascido na Bélgica, na região de Barchon, pequeno vilarejo rural perto de Liège, em 25 de março de 1925, LÉON LAMBERT JOSEPH GRÉGOIRE viveu parte de sua juventude em um ambiente marcado pela Segunda Guerra Mundial. Depois dos estudos secundários interrompidos por sua participação no exército secreto belga, recebeu, em 1947, o hábito dos missionários redentoristas. No ano seguinte, consagrou-se pelos votos evangélicos e foi ordenado padre em 15 de setembro de 1953. Ainda na Bélgica, serviu como missionário e professor até 1965, quando, a pedido de Dom José Brandão de Castro, Bispo fundador da diocese de Propriá (Sergipe), vem para o Brasil, para desenvolver seu ofício em terras sergipanas.

Tornou-se vigário das paróquias de Canhoba, Amparo de São Francisco e Telha, até 1971, desenvolvendo, juntamente com o Pe. Nestor, grande trabalho social naquela região, do qual se pode destacar, dentre outras obras, a Fundação do Colégio Santo Antônio e da Igreja de São Pedro.

Em 21 de março do mesmo ano, assumiu a Paróquia de Nossa Senhora da Glória, que à época abrangia também os municípios de Monte Alegre de Sergipe, Poço Redondo e Canindé do São Francisco, e permaneceu em sua administração até fevereiro de 2000, quando se tornou Pároco Emérito. Léon Grégoire, o "Pe. Gregório", o "Santo Leon", o "Mestre Gregório", ou tantas outras denominações pelas quais é conhecido pelo povo gloriense e sergipano como um todo, promoveu o desenvolvimento do sertanejo. Através da realização de projetos nas áreas de educação e cultura, saúde, habitação, alimentação, balizados pela formação moral cristã, Pe. Gregório atuou em todas as áreas que envolvem os elementos estruturantes da sociedade e da cidadania do sertanejo. Esses princípios pautaram sua missão em Glória, o seu caminho de vida.

Em setembro de 2010, Pe. Grégorio completou seu 57º aniversário de sacerdócio. Quatro meses depois, aos 85 anos de vida, já com o organismo bastante debilitado, deixou a vida terrena, em janeiro de 2011, sendo aclamado pela população gloriense e visitantes de várias partes do Estado de Sergipe e do Brasil, além de sua família biológica, que acompanhou da Bélgica a cerimônia do sepultamento.

Seria de nossa parte muito pretensioso, e facilmente falível, num rápido resgate, enumerar os seus feitos, suas realizações, exemplificar sua obra, tão matizada pela semeadura de esperanças e consolações, de conhecimento e trabalho entre o povo sertanejo. Estão em seu currículo, dentre outras incontáveis ações: criação do Jardim de Infância Pequeno Príncipe (atual Escola Padre Leon Gregório); ampliação e reforma da creche; projeto do Núcleo Educacional para crianças de 3 a 6 anos; fundação do Asilo da cidade; ampliação do Colégio Glória e implantação do 2º grau (atual Ensino Médio); criação do Centro de Tratamento de Doenças Mentais (terapias grupais e ocupacionais) Luz do Sol; criação das pastorais da criança, carcerária e da saúde, esta última com a produção de alimentos alternativos (hortas) e de remédios naturais; desenvolvimento de mudas para arborização da cidade, administração do hospital regional; construção de cisternas na zona rural; criação da escola de corte e costura; realização de missões religiosas nos povoados (santas missões); implantação de igrejas em várias comunidades; distribuição de sopa em comunidades de baixa renda; realização do projeto Brasil Criança Cidadã.

Ao observarmos sua trajetória, temos a impressão de que os embates, os desafios, as dificuldades que a vida lhe impôs se transformaram em bases seguras para consolidar seu espírito de luta e desprendimento, de renúncia e entrega. Sua vida missionária é assinada pelo devotamento aos menos afortunados. Todos nós, sobretudo os filhos glorienses, conhecemos sua trajetória, sua conduta irrepreensível.

Pe. Gregório é um exemplo vivo do verdadeiro Cristianismo, que tem suas raízes na fraternidade, na humildade, na pureza e simplicidade de pensamentos, sentimentos e ações, na dedicação incondicional ao próximo, pelo exercício da misericórdia e da compaixão. Sua humildade e simplicidade não conflitavam com o bom senso a indignação com as injustiças sociais. Sua persistência na luta em favor dos desfavorecidos, sua determinação em levar a missão até o fim são uma prova concreta de elevação espiritual, de grandeza humana. Por fim, nos demonstra na prática a diferença entre passividade e pacificidade. A passividade, calcada na indiferença, no individualismo e no egoísmo, no medo e no comodismo, foi amplamente combatida pelo mestre Leon com uma pacificidade ativa que nos remota a Mahatma Gandhi, que preferiu utilizar o conceito de não violência (ahimsa), como sendo a "persistência pela verdade". Padre Leon lutou bravamente pelo estabelecimento da paz e da justiça entre os seres humanos, buscando a garantia dos direitos fundamentais dos indivíduos, sobretudo para a população socialmente marginalizada pelo poder político, econômico e prestígio social.

Tenhamos no Pe. Gregório um modelo a ser seguido. Que todos nós possamos nos espelhar em seu exemplo para reavaliarmos nosso próprio caminhar, pois não bastam a admiração histórica, as homenagens festivas, a beatificação com títulos honoríficos, as rogativas por bênçãos espirituais, se em nosso cotidiano, nas lutas diárias alimentamos a indiferença, ignorando o sofrimento alheio, alimentando ódio, inveja, egoísmo, orgulho, e todas as outras patologias da alma, que ainda carregamos em nosso mundo íntimo, dentro de nós. O maior reconhecimento que nosso venerando amigo pode receber reside em nossa capacidade e determinação para dar continuidade à sua obra, de cujos títulos de autoria o próprio sacerdote redentorista nos ensina: são do Alto, são do Cristo Jesus. Sejamos aquilo que ele sempre buscou ser.

Edson Magalhães Bastos Júnior

Membro Fundador

Cadeira 08