Discurso de saudação ao acadêmico Carlos Alexandre

10/10/2015

Senhoras e Senhores, muito boa noite.

Nesta noite festiva para a história das letras em nosso estado, e em nosso município, recebi uma incumbência que me deixou, a princípio, muito reflexivo, feliz e extremamente preocupado. Receber um novel acadêmico é mais do que um protocolo necessário, componente dos atos de um Sodalício. Cremos piamente que este ato representa: resgatar e compartilhar com a comunidade presente, fragmentos da vida e obra de um indivíduo, de um ser, em todas as suas dimensões, tecer um fio condutor que interligue tais fragmentos e que nos permita, ao final, diante da síntese sobre a razão de sua presença e de seu ingresso, exprimir a alegria e a gratidão de sua presença. Isto justifica minha preocupação, tamanha responsabilidade. Mas também, tamanha honra.

Tive a felicidade de conhecer o Professor Carlos Alexandre há pouquíssimo tempo, é bem verdade. Mas quando se começa a conviver com o educador, mesmo que por curtos instantes, embora sua guerreira sina já conte três décadas e meia, reconhece-se de imediato um olhar persistente e humanista que remonta ao universo de grandes educadores da história da civilização: Sócrates, Comenius, Rousseau, Pestalozzi, dentre outros, aos quais louvo e também ofereço a noite de hoje, pois sua prole se fez incontável.

Desta prole, estamos diante de um filho nascido em terras capelenses, mas naturalizado no município de Aquidabã (SE): o professor Carlos Alexandre Nascimento Aragão.

Então devo refazer a minha fala, e dizer não apenas que tive a felicidade de conhecer o professor Carlos Alexandre, e afirmar: eu tive a responsabilidade de conhece-lo. Sim, porque quando nos deparamos com a figura daqueles que lutam pela tão sonhada transformação da sociedade, não apenas com o poder das letras mortas, mas com o poder da palavra viva, sentida e encarnada no dia a dia, na sala de aula, é impossível permanecermos inertes, por mais força que façamos para salvaguardar nossa zona de conforto. Foi isso que senti quando comecei a ter contato com o Professor Carlos, que, felizmente, agora, ocupando a cadeira de nº 13, se faz novel acadêmico da AGL, a quem tenho a alegria de chamar de confrade.

Isto me faz pensar no sentido lato do termo ofício, da profissão. Das informações que os bons ventos nos trazem sobre sua trajetória de vida, vamos perceber a forte presença da simplicidade semeada em berço agricultor. Mas não aquela simplicidade que graceja de mãos dadas com a inércia, com as facilidades. Uma simplicidade cultivada com muito suor e dedicação. Vamos observar que, em sua juventude, o magistério já se colocava no campo das vocações. A luta pela educação, para acessá-la, muito presente, retratando os desafios de uma época. Durante uma parte do dia, aquele garoto cultivava no solo, grãos e sementes, que representavam, pensamos, o sustento de sua família. Mas, em outra, semeava letras em si mesmo, no solo da sua personalidade. Dito isto, reconheço que o educador guarda em si o agricultor do passado no professor do presente. Mas agora os solos são outros.

O tempo, com a destreza que lhe cabe, voou através das décadas. E Carlos Alexandre voou junto.

Veio a primeira turma de magistério em 1996, quando iniciou seu plantio das letras. Seis anos depois esse cultivo se amplia, agora como Professor da Rede municipal de Ensino em Aquidabã (SE). A sede seguiu seu curso, e em 2003, veio a graduação em Letras Português/Inglês pela Universidade Tiradentes. E como consequência desta trajetória, o terreno se amplia e, em 2004, torna-se professor da Rede Estadual de Ensino. Dois anos depois, veio o Ensino Superior, e nesta espiral ascendente, torna-se Mestre em Letras pela Universidade Federal de Sergipe, em 2012.

A semeadura tomou novas proporções com a realização do primeiro concurso de poesia do Colégio Estadual 28 de Janeiro, e, depois com o grupo Poetas Modernos, a partir do qual "A Poesia vai à Escola".

Desde 2014, o Professor Carlos é membro fundador da Academia Literária do Amplo Sertão Sergipano, o primeiro Sodalício Regional do estado, no qual representa o município de Mote Alegre de Sergipe, a terra por ele escolhida para fixar seu campo de semeaduras.

Caminhando para as disposições finais, recorro a outro educador para saudar em definitivo o Professor Carlos Alexandre. Recorro então às recentes reflexões do Doutor Ricardo Wardil, que me provocam desde o início da semana com seu "Pedagogia da Virtude", um testemunho de vida em busca de uma pedagogia possível. Eis aí mais um filho desta imensa prole.

Sobrevoando seu testemunho, chamou-me atenção o marco inicial ou ponto de partida desta pequena grande obra. Um livro fininho, do qual chamaríamos "de bolso". Mas nunca vi tantas verdades caberem em um bolso sem que flutuem pelo ar, em busca do seu lugar de direito.

E, peço licença aqui para citar o professor Ricardo, quando ele nos apresenta os três conceitos de educação e três princípios que norteiam a pedagogia da virtude.

Cita Rousseau, para dizer que "educar é conhecer a natureza da criança, ajudá-la a se conhecer para que ela aprenda a se governar."

Em seguida nos coloca que "Educar é dar respostas a perguntas que ainda não foram feitas."

Por fim, arremata que educar é "inserir na realidade".

E quando nos apresenta a Pedagogia da Virtude, é bem verdade que ele está raciocinando do ponto de vista de um Pai/Mãe, tendo como escola um lar; vai colocar que três também são os princípios que a norteiam:

- vida desapropriada;

- comover; e

- ser testemunho.

Da desapropriação, nasce um pertencimento mútuo, onde, se não somos mais os mesmos, se temos aspectos da vida que não mais retornarão, um "nós" vai surgindo no coletivo. Os filhos, diz ele, "não são uma argila". Nós é que devemos nos renovar a cada dificuldade.

Da comoção, nos diz sobre o encantamento necessário, e que de vez em quando temos que ser "doidos varridos". "Vamos almoçar embaixo da mesa hoje?" A casa deve ser um lugar pra onde se tem vontade de voltar. E a escola?

Por fim, ser testemunho. Nos diz que a educação não é falada. É vista, sentida. Todo acontecimento é a vida pedindo uma resposta saudável. "Testemunho é esse momento que eu provoco o outro a me seguir, porque é belo, justo e bom."

Refletindo sobre essas provocações, ou seja, sobre esse "impulso que fazer nascer uma vocação", percebi que o discurso de recepção do meu confrade estava ali o tempo inteiro e só eu que não enxergava! Esse quadro pintado pelo Professor Ricardo, reflete bem a figura daqueles que se laçam à tarefa de permitir que os indivíduos conheçam a si mesmo para aprenderem a se governar. E o professor Carlos Alexandre é filho digno desta prole. É finalmente, alguém que aceitou o desafio de conhecer a si mesmo para se governar. E por isso o recebo com respeito e consideração, fraternalmente na noite de hoje. Bem-vindo, Professor! E que sua presença nos provoque a crescer!