Discurso de Posse do acadêmico Carlos Alexandre

10/10/2015

DISCURSO DE POSSE NA CADEIRA Nº 13 DE MEMBROS EFETIVOS 

Senhor Presidente da AGL, Jorge Henrique Vieira Santos, em cujo nome saúdo a todos os que compõem a mesa;

Senhor EuvaldoLima, em cujo nome cumprimento a todos os acadêmicos da AGL;

Senhor Kelber Rodrigues,em cujo nome, cordialmente, cumprimento os confrades e confreiras da ALAS;

Senhora Salete Nascimento, em cujo nome solenemente cumprimento aos demais membros das agremiações aqui presentes;

Senhora Maria do Carmo, em cujo nome cumprimento a todos os demais presentes e ao Grupo dos Poetas Modernos, saúdo os meus alunos e ex-alunos.

Sinto-me honrosamente agradecido a todo o sodalício da AGL por ter escolhido o meu nome para ocupar a cadeira de nº 13. Folcloricamente, esse número traz alguns aspectos negativos por ser considerado, por algumas pessoas, como indício de azar, mas neste momento solene esse pensamento se dissipa pela multidão que aqui se encontra, porque revela-se sinônimo de honra, compromisso, trabalho, dedicação e solidariedade.

Chego a este sodalício para me somar aos nobres confrades e confreiras em prol da conservação da cultura, da divulgação da nossa literatura, da descoberta de novos escritores e amantes da cultura, da produção literária, do respeito aos aspectos socioculturais, enfim, de todos os propósitos que estejam ligados à cultura, literatura e arte, pois o que seria de um povo se não tivesse sua cultura materializada também em sua língua.

Dizem que somos imortais. Então, teremos o privilégio de não desencarnarmos, isso pode ser bom. É, nobres confrades/confreiras e público presente, a posição de imortal pode ser aferida a qualquer indivíduo que esteja no seio da memória social de um povo. Poderíamos pensar na imortalidade de Joaquim José da Silva Xavier, vulgo Tiradentes, entre outros. Imortalizou-se por ser o líder da Inconfidência Mineira e não por participar de uma Academia de Letras. É necessário construir um caminho da imortalidade que transcenda o ser acadêmico, desenvolvendo a cultura, a arte, a literatura e descobrindo talentos.

Fico honrado com tamanho papel que ocuparei a partir de hoje na AGL. Não medirei esforços para elevar o nome desta instituição instalada na Capital do Sertão, Nossa Senhora da Glória. Esta terra tem um grande valor cultural e histórico para o nosso estado.

Lembro-me da primeira vez em que estive aqui com o meu pai, Carlos Andrade de Aragão. Era um dia de feira. Nesse dia, havia descoberto a gloriosa Glória. O tempo passa e quis o destino que viesse morar no Alto Sertão sergipano. Aqui conheci várias pessoas de diferentes lugares.

Em 2006, quando me tornei professor-tutor da Universidade Tiradentes no polo presencial de Monte Alegre de Sergipe, tive a grande satisfação de trabalhar e lecionar para glorienses. Esses seres radiantes de luz me tornaram mais maduro. Assumia a cadeira de Literatura Brasileira e assim colocava em prática os ensinamentos dos inesquecíveis professores Ivaldo Bittencourt (in memoriam) e Luiz Estrela de Matos, aprimorando o conhecimento e aproximando-o do contexto social dos acadêmicos. Esse contato possibilitou conhecer melhor o cidadão gloriense, observar o quanto ele luta por um amanhã melhor capaz de transformar a sua vida e a dos seus. A atitude é louvável a qualquer cidadão consciente. Registro a admiração pela professora Maria Iracema (in memoriam), pessoa de grande coração e de sonhos radiantes, e pela professora Josivânia Almeida, querida amiga; Aos eternos ex-alunos e amigos Jaquilene Silva, Otavana, Emanuelle, Cleverton, Fernanda, Cláudia, Andreia, Valdson entre tantos outros.

Em 2010, ingresso no Mestrado em Letras da Universidade Federal de Sergipe e o destino, mais uma vez, me presenteia com amizades valiosas. A turma dos "Chambers", assim denominada pelo grande Cezar Neri, estava formada: Eu, Cezar Neri, Edinha, Maria do Carmo, Jorge Henrique, Rita de Cácia, Mônica, Wagner, Gleise e Luiz Alberto. Nesse reduto do conhecimento existiam dois cidadãos glorienses, Jorge Henrique e Maria do Carmo, além da senhora Verônica Almeida. O tempo passa e com ele vem a construção de uma amizade respeitosa, verdadeira, sincera e leal. A partir deste momento a minha ligação com essa amável terra torna-se mais forte, pois compartilhamos sonhos, choramos angústias e brindamos vitórias. Três seres verdadeiramente humanos.

Nasci no povoado Angás (Zingar), no município de Capela, na casa dos meus avós maternos, Lucila Pastora e Adolfo, mas me criei no povoado Segredo, em Aquidabã. Logo, ninguém deve saber por ser segredo.

A minha trajetória, enquanto ser humano e profissional, está embasada nesses dois lugares. Eles povoaram/povoam o meu imaginário. Imaginário que, desde cedo, vislumbrava um mundo melhor para o semelhante.

Sempre fui encantado pelo o universo das letras e das imagens através das revistas e livros encontrados na casa dos meus avós. Sou neto de uma professora. Logo, a vocação para o magistério se explica.

Encantei-me pelo universo do ensino desde cedo, porque além de ter contato com a minha avó, ainda tinha a tia Lindete, que era muito erudita quanto ao uso da Língua Portuguesa. Com ela não podíamos cometer deslizes porque éramos repreendidos. Mas isto fascinava e hoje sei o quanto aquele ser, amável, mostrava o caminho do futuro: o encantamento pela Língua Portuguesa.

Meus pais não tiveram a oportunidade de continuar estudando, mas chegaram a 4ª série do Ensino Fundamental. Eu e minha irmã, Carla Rejane, assim como os outros irmãos: Diego, Daiane, Karine e o pequeno Gabriel, tínhamos em casa uma grande professora, a nossa mãe, Rose Meire Nascimento Aragão, que, mesmo não tendo o diploma, nos ensinou a ler, escrever e a contar. Chegávamos à escola com o dever feito e a lição decorada para apresentar às adoráveis professoras: Dona Antônia (in memoriam), Maria José, Dona Vânia, entre outras.

O tempo passa e a consciência quanto à minha profissão vai sendo solidificada. As professoras me ajudaram a escolher o legado de professor e delas tenho referência. Mas por que escolher uma profissão tão desvalorizada? Muitos seriam os motivos para não seguir a docência, mas a satisfação de ensinar ao outro e aprender com ele é um dos encantamentosda profissão. Apesar de a educação não ser prioridade em nosso país, tampouco a valorização do professor ser garantida pelos governantes e pela sociedade em geral, ainda é possível acreditar e confiar no amanhã.

É essa esperança que me impulsiona a oportunizar novos horizontes para os estudantes, quebrando os seguintes estereótipos: que professor de escola pública é acomodado, preguiçoso e não se importa com a aprendizagem dos seus educandos e que os alunos não gostam de estudar. Tudo isso é uma inverdade, porque encontramos vários exemplos de jovens, alunos de escolas públicas, que leem e escrevem bastante, conseguindo espaços nas universidades e no mercado de trabalho. Professores que desenvolvem uma prática docente voltada para a aprendizagem efetiva dos seus aprendizes, através de projetos, interações, respeito e livres de regras. Ainda falta o apoio de toda a sociedade e, sobretudo, dos governantes.

Por ser encantado pelo ato de ensinar e por me ter sido dado escolher quem seria a Patronesse da cadeira que irei ocupar, escolhi para sê-loa doce professora Maria Etelvina Nunes Ferreira. Apesar de não conhecê-la pessoalmente, tive a satisfação de conviver com os seus dois filhos, Maria Pureza Nunes Ferreira e Luiz Carlos Nunes Ferreira (in memoriam). Dois seres humanos incríveis.

A educadora nasceu aos 22 de junho de 1914 na cidade de Cedro de São João, então Darcilena. Filha de Beijamin Alves Nunes e de Maria da Pureza Nunes. Era carinhosamente chamada por Vininha.

Suas primeiras letras foram na Escola Comandante Taylor, em Cedro de São João. Aos seus 12 anos,finalizou com êxito o curso primário na escola do povoado Cedro. Estudou na antiga Escola Normal, na capital do Estado de Sergipe, e assim era chamada de normalista. Ao terminar o curso, foi ser professora no povoado de Monte Alegre, no município de Nossa Senhora da Glória, em 1944. Mas antes foi professora primária da Escola Comandante Taylor, na Colônia de Pescadores da cidade de Cedro de São João. Nesse período, fez o curso de habilitação para o magistério primário, logrando êxito.Em 1955, foi transferida para o Grupo Escolar Coelho e Campos, em Capela, por questões políticas. A transferência ocorreu no governo de Leandro Maciel.Lá passou seis anos, lecionando naquela unidade escolar.

No governo de Luiz Garcia, retornou ao município de Monte Alegre de Sergipe para lecionar na Escola Isolada. A sua volta ocorrera devido ao discurso elaborado para o ato de inauguração da energia elétrica deste município. Esse discurso foi lido por sua filha Maria Pureza Nunes Ferreira, na época com 11 anos.

Exerceu o magistério durante 36 anos, sempre em sala de aula. Ao final da sua jornada de educadora, foi convidada para assumir a direção do Grupo Escolar José Inácio de Farias, mas não assumiu por conta do processo de aposentadoria. A sua aposentadoria foi concedida no dia 03/05/1968, pelo então Governador Lourival Baptista, e assim aposentou-se como professora primária nível 09.

Sempre se envolvia com as festividades do município e gostava de criar concursos de poesias nas datas comemorativas. Era dinâmica e presente em todos os eventos da comunidade escolar e externa.

Além de ser uma grande educadora, foi uma majestosa dona de casa, esposa e mãe. Aos 16/07/1946, casou-se com o senhor Jaime Alves Ferreira, cuja origem era de Ribeirópolis, mais precisamente do Povoado Serra do Machado. Essa grande educadora nos deixou no dia 06/08/1995, às 18h, mas sua herança ficará eternamente nas gerações da população do município de Monte Alegre de Sergipe.

Em seu caderno de anotações, datado de 1945, encontram-se grandes relíquias e uma descrição da personalidade dessa educadora. A organização era um marco em sua vida, pois o seu dia-a-dia profissional mostra-se registrado. A sua fé em Deus era muito forte e acreditava no poder da oração, esse comportamento associa-se há vários existentes naquela época. Além disso, era uma boa dona de casa e uma cozinheira exemplar.

Folheando os escritos da adorável professora, descobri o poema "Ino Escolar" (sic). Nele a educadora fala da emoção de viver no sertão do Brasil. Uma terra desprivilegiada pelo poder público, mas rica em recursos naturais. A sua fauna e flora encantam os seus moradores e a todos os visitantes.

Assim, parafraseando a homenageada, a AGL encontra-se nesse sertão cheio de paisagem e lindas imagens, onde nasceu sorrindo a raça brasileira, nada mais eu desejo, que ser sertanejo deste meu Brasil.

Finalizando este discurso, ressalto a importância que um educador tem na vida de cada aprendiz. Ele servirá, para muitos, de reflexo/referência enquanto conduta humana e profissional. Lembro dos inesquecíveis mestres que alicerçaram o meu caminho nesta breve passagem terrestre: Dona Antônia (in memoriam), Maria José, Ivânia Rocha (Dona Vânia), Claudiney, Cleide Ginalva, Sandra, Sanches, Débora Guimarães, Ivaldo Bittencourt, Luiz Estrela de Matos e a eterna orientadora-amiga Maria Emília. Todos esses educadores regaram e zelaram pelo meu conhecimento. Assim, trago as suas referências na busca de transformar a vida dos meus aprendizes, mostrando o quanto a educação é importante e o quanto necessitamos ter objetivos definidos.

Hoje, sou professor de Língua Portuguesa na rede estadual de Sergipe, atuando no Colégio Estadual 28 de Janeiro no município de Monte Alegre de Sergipe. Busco apresentar aos adolescentes a língua em ação e não presa às normas como aquela bem usada por tia Lindete, que muita das vezes se tornam incoerentes e enfadonhas. Defensor do ato de ler e escrever por acreditar que o universo da leitura transforma vidas e uma sociedade, desenvolvo projetos seguindo esse caminho e oportunizando aos estudantes novos olhares, novos horizontes. Esses projetos têm como eixo a LEITURA, interagindo com a literatura. Esta retrata a sociedade e serve de fuga do mundo real, cruel e desumano.É preciso tirar a máscara da culpabilidade e assumir a linha de frente, porque nas nossas escolas encontramos estudantes com sede de saber, existem os saciados, ou seja, que não querem, mas é minoria diante de uma gama de aprendizes esperando uma mão que seja estendida.

Criamos oportunidades no espaço escolar e vários projetos vêm sendo desenvolvidos. Destaco o projeto "A poesia indo à escola", voltado para a divulgação da vida e obra de poetas modernistas. O grupo foi criado em 2013 e hoje temos 18 estudantes participantes que acreditaram/acreditam na ideia, a eles o meu muito obrigado. Muitos tinham o olhar indiferente para a poesia, alguns entraram no projeto porque queriam conhecer os municípios do nosso sertão sergipano, mas à medida que iam pesquisando, analisando poemas e apresentando foram encantados pela força poética. Hoje, escrevem e participam de concursos poéticos. Isto é oportunizar.

Comungo desta alegria com amiga-irmã professora Drª Christina Bielinski Ramalho da Universidade Federal de Sergipe, campus de Itabaiana. Um ser sempre disposto a ajudar ao próximo e faz esta ação através de projetos, cursos e oficinas sem fins lucrativos, porque o seu maior intuito é mostrar o universo das letras aos jovens.

O espaço escolar deve ser concebido como uma troca de saberes e não de superioridade de saberes. Pensamento corroborado pela minha Patronesse, a professora Maria Etelvina. Estamos em outro tempo, mas a ideia de mostrar ao aprendiz o quanto ele é capaz ainda prevalece. Encontramos jovens em nosso sertão produzindo poemas, crônicas, cordéis, contos etc, graças às oportunidades criadas pelos seus educadores, membros da comunidade, academias literárias e instituições sociais como a Loja Maçônica Cotinguiba, graças ao mentor cultural, Domingos Pascoal. Este ser torna o sonho de jovens escritores em realidade. Precisamos de pessoas como Pascoal para amenizar as dores da vida real. É necessário descobrir talentos e lapidar os existentes.

Nesse sentido, membros da AGL e da ALAS se uniram com o intuito de aprimorar o conhecimento dos sertanejos, sergipanos e amantes da escrita, criando oficinas de produção. A Academia tem a função de promover espaços de discussões e produções. Hoje, a professora Christina Ramalho é uma grande parceira desta ideia e nos oportunizou um curso com o renomado poeta paraibano Frederico Barbosa, prêmio Jabuti, aqui em Nossa Senhora da Glória. É necessário haver a união destes sodalícios em prol de um bem maior que é a preservação da cultura falada, pintada, e escrita.

Assim, o canto do galo vai ecoando e novos galos começam a cantar, unificando as vozes, sonhos e realizações pessoais. É nesse sentido que nós, acadêmicos, buscaremos unir os cantares dos novos e renomados cantos. Almejamos que o eco se espalhe pelas gerações atuais e as vindouras, contagiando os admiradores das palavras e das artes.

Obrigado a todos.