Discurso de Posse de Lucas Lamonier

10/10/2015

DISCURSO DE POSSE NA CADEIRA Nº 14 DE MEMBROS EFETIVOS  

Senhor Professor Jorge Henrique Vieira Santos, digníssimo Presidente da Academia Gloriense de Letras.

Excelentíssima Senhora Desembargadora do Tribunal Regional do Trabalho Maria das Graças Monteiro Melo.

Senhor Domingos Pascoal de Melo da Academia Sergipana de Letras.

Senhor João Paulo Araújo de Carvalho, presidente da Academia Dorense de Letras.

Senhora Cácia, representante do Poder Legislativo Municipal.

Ilustres acadêmicos, autoridades presentes, minha família, caros amigos.

Hoje é um momento muito especial na minha trajetória de vida e gostaria, primeiramente, de fazer alguns agradecimentos, pois, como dizia Willian Shakespeare: "A gratidão é o único tesouro dos humildes".

No dia 12 de dezembro de 2012, presenciei a criação da Academia Gloriense de Letras, que tem como Patrono o inesquecível Pe. Leon Gregório. Naquele dia, meu coração se enchia de alegria e os olhos marejavam por poder ser testemunha de um grande momento lítero-cultural em minha terra. Eram oito idealizadores que assumiam o compromisso de honrar e promover a cultura letrada. A eles, somos todos gratos por criarem uma agremiação que se preocupa com a preservação da cultura e das letras em nosso município. Sinto-me, assim, honrado em hoje poder integrar esse grupo de promotores do conhecimento. Aos meus confrades e confreiras desta Augusta Arcádia, que são responsáveis por este momento, quero agradecer a oportunidade dada a mim para que também possa contribuir de alguma forma com esta academia e a sociedade.

Neste momento de grande júbilo para mim, também com muita honra sou diplomado na cadeira de nº 14, patroneada pela educadora Maria Iracema Santos, primeira gloriense a patronear uma cadeira do referido Sodalício.

Como tive o privilégio de escolher quem seria o patrono da cadeira que iria ocupar, cumpre-me agora descrever, por meio da biografia dessa ilustre cidadã gloriense, as motivações que me levaram a tal escolha.

A Profª. Iracema nasceu no dia 14 de abril de 1954, em Nossa Senhora da Glória. Filha primogênita do comerciante Manoel dos Santos (Manoel Nicola) e da Prof.ª. Iraci Oliveira.

Iniciou seus estudos formais no Educandário São Francisco de Assis, dirigido na época pelo Sr. Manuel Cardoso dos Reis. Passou também pelo Colégio Glória e pelo Colégio Estadual Cícero Bezerra, onde terminou o 1º grau.

Aos 16 anos, por meio de concurso público, ingressou na Caixa Econômica Federal e, em seguida, atuou em uma empresa privada, a EMBASA, na cidade de Vitória da Conquista (BA), onde concluiu o 2º grau no Centro integrado de Educação Navarro e Brito - CIENB. Ainda em terras baianas, cursou Patologia Clínica no Instituto Conquista de Educação e Preparo - ICEP e prestou vestibular para Língua Portuguesa na Universidade Estadual do Sudoeste Baiano - UESB, sendo aprovada para, futuramente, cumprir a missão de que mais gostava: lecionar.

Anos depois, retorna definitivamente para a sua terra natal e se casa com José dos Santos, com quem teve dois filhos: Flávio e Flávia.

Maria Iracema dos Santos dedicou mais da metade de sua vida à educação. Lecionou no Colégio 28 de Janeiro e na Universidade Tiradentes (UNIT), em Monte Alegre de Sergipe. Em Nossa Senhora da Glória, trabalhou no Colégio Cantinho da Sabedoria, no Colégio Nossa Senhora de Lourdes e no Colégio Educar. Implantou o Polo da Universidade Tiradentes na Capital do Sertão, atuando como a primeira Gestora.

Como nos afirma Augusto Cury "Um excelente educador não é um ser humano perfeito, mas alguém que tem a serenidade para se esvaziar e sensibilidade para aprender".

Assim era a Prof.ª Iracema, serena e sensível, professora por vocação que nutria uma relação maternal com os educandos sem perder o princípio da autoridade não autoritária.

Iluminada por Paulo Freire na assertiva de que "Educar-se é impregnar de sentido cada momento da vida, cada ato cotidiano", ela transformava sua casa em uma extensão da escola, recebia constantemente seus alunos, que a procuravam em busca de conhecimento e aconselhamentos.

"Feliz daquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina", Cora Coralina, autora muito citada pela Prof.ª Iracema.

Posso afirmar, com toda propriedade, que ela foi, é e sempre será modelo a ser seguido, pois não media esforços para alcançar seus objetivos como educadora, era incansável na missão de transformar, de auxiliar no crescimento de seus educandos. Era pesquisadora, compreendia diversas áreas do conhecimento, podia transitar por vários temas transversais com muita propriedade.

Tive o prazer de tê-la como orientadora de Estágio Supervisionado e a oportunidade de poder atuar ao lado dela na ação de educar.

Em 20 de julho de 2009, uma segunda-feira, quando se comemorava o Dia do Amigo, partia para o plano espiritual a nossa educadora.

Recorro mais uma vez a Cora Coralina "Fechei os olhos e pedi um favor ao vento: Leve tudo que for desnecessário. Ando cansada de bagagens pesadas... Daqui para frente levo apenas o que couber no bolso e no coração." E continuo "O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher."

Aqui trago o maior legado da educadora Iracema: A CAMINHADA. Ela traçava metas, envolvia as pessoas, articulava as ações, instigava a curiosidade, e, sobretudo, caminhava junto.

Não poderia deixar de mencionar Içami Tiba também e à reflexão das portas da vida: Se você abre uma porta, você pode ou não entrar em uma nova sala. Você pode não entrar e ficar observando a vida. Mas se você vence a dúvida, o temor, e entra, dá um grande passo: nesta sala vive-se!

Eis o grande desafio de educar: abria as portas. Convidar o educando a entrar na sala do conhecimento e vencer o obstáculo da dúvida, vencer a ignorância, agigantar os passos em busca de uma vida plena, com dignidade e crescimento pessoal. Iracema nos conduzia a essas portas, levando-nos a aproveitar as oportunidades que a vida nos oferecia.

Içami Tiba continua divagando em relação às portas: A vida é generosa, a cada sala que se vive, descobrem-se tantas outras portas. E a vida enriquece quem se arrisca a abrir novas portas. Ela privilegia quem descobre seus segredos e generosamente oferece afortunadas portas.

Iracema abriu todas as portas para que nós, sementes e semeadores, pudéssemos ir ao campo, semear, colher, abrir novas portas, olhar o horizonte e continuar a incansável missão de educar e hoje nós arriscamos a abrir novas portas porque fomos encorajados por essa mulher que não conhecia o verbo cansar-se quando se referia em transmitir conhecimentos.

"Se temos de esperar, que seja para colher a semente boa que lançamos hoje no solo da vida. Se for para semear, então que seja para produzir milhões de sorrisos, de solidariedade e amizade", Cora Coralina.

Eis o momento da gratidão! Parafraseando Chico Xavier, agradeço todas as dificuldades que enfrentei; não fosse por elas, eu não teria saído do lugar. As facilidades nos impedem de caminhar. Mesmo as críticas nos auxiliam muito.

Parece ser estranho agradecer as dificuldades, no entanto, aprendi, ao longo da vida, que são elas que nos fortalecem e nos preparam para os desafios futuros.

Agradeço a Deus por ter nascido na família em que nasci, uma família brasileira, humilde, que enfrentou as intempéries da vida. Agradeço, principalmente, a minha mãe, que enfrentou todos os obstáculos para educar e conduzir cada filho no caminho da honestidade e gratidão. Ela que além de mãe foi pai, foi o pão de cada dia, foi o caderno, a caneta. À senhora dedico cada conquista, cada degrau novo alcançado.

Estendo meu agradecimento aos meus irmãos e irmã que ora se tornaram filhos, ora amigos, ora vida. Não encontro adjetivo para expressar o quanto vocês significam em minha vida.

Dentro da minha formação educacional são tantos os nomes que ficaram e ficarão marcados eternamente na minha memória e que serei eternamente agradecido. E usando as palavras do Pe. Fábio de Melo "Eu gostaria de lhe agradecer pelas inúmeras vezes que você me enxergou melhor do que eu sou. Pela sua capacidade de me olhar devagar, já que nessa vida muita gente já me olhou depressa demais". A vocês, meus mestres, que me oportunizaram o encontro com o conhecimento, que me apresentaram as portas por que eu deveria adentrar. Dentre estes mestres, agradeço de modo particular a Prof.ª Lucíola, que me motivou no caminho literário. Nunca esquecerei que meu primeiro poema "O viajante" foi escrito por incentivo seu. Você que despertou a minha veia poética e em meio às dificuldades familiares que eu passava, encontrei nas palavras um abrigo, um refúgio.

Agradeço também a Jorge Henrique, meu professor, meu mestre, meu ídolo literário. Lembro bem da primeira aula do famoso professor/poeta Jorge Henrique. Toda turma ficou encantada com a maestria com que ele usava as palavras. E, a cada aula, fui tendo a certeza de que queria entrar pela porta que ele abriu e entrou. Queria ser a mutação provocada pelo poeta no poema Mutante in Sanidade:

Mudar o mundo moldado

Mudando a moldura impura.

Matar o mito pecado

Encravado na criatura.

Conter o amar no verbo.

Contar quantos contos há.

Cantar o encanto tanto

Quanto não cantar.

Partir a partir da parte.

Partir daquilo que sou.

Porta-voz da voz do nada

Na dança do nada vou.

Cantar o amar...

Conter o partir...

Mudar o contar...

Utopia desmedida.

Talvez seja um conto tonto

Tombar do sopro da vida,

Tambor de surdo pulsar.

A você Prof. Jorge Henrique, o meu agradecimento.

Aos amigos/irmãos que se fizeram e fazem presença caminhando junto, ajudando a enfrentar as dificuldades, sendo suporte para as escaladas.

A Igreja Católica, minha base de formação humana e intelectual. Cresci à luz do evangelho e observando no grande educador Jesus Cristo os segredos de ser um bom mestre. Sendo simples nas palavras e firme nas ações.

E ao encerrar, gostaria de submeter à reflexão de todos, principalmente os educadores, o sábio e profético pensamento do escritor alemão Albert Schweitzer: "Todas as sementes de bondade que um homem espalha pelo mundo brotarão um dia nos corações e pensamentos de outros homens".

Obrigado!

O VIAJANTE

Nos caminhos que percorro

Entre flores e espinhos

Fica marcado em meu corpo

A triste história do meu choro

Vendo crianças brincar

Com um brilho no olhar

Vendo o sol nascer

E o brilho dele resplandecer

Lembro-me do passado

Que agora deparo

Com lágrimas marcando

A sombra no papel

Nos caminhos que andei

Dificuldades encontrei

Entre mares e montanhas

Nos abismos da vida passei