Discurso de Posse de Geraldo Aragão

09/07/2016

DISCURSO DE POSSE NA CADEIRA Nº 06 DE MEMBROS CORRESPONDENTES

Senhor Jorge Henrique Vieira Santos e demais componentes da mesa;

Confrades e confreiras;

Familiares;

Parentes da Matronesse, Ermínia Cecília Santos;

Convidados,

RECONHECIMENTOS:

Esta Gloriosa Academia teve sua origem na mente iluminada do nosso conterrâneo Evando dos Santos que, prevendo a minha displicência neste mister de reconhecimento, recomendou-me que citasse, nominalmente, dois cidadãos do Rio de Janeiro que viabilizaram materialmente a sua vinda a Nossa Senhora da Gloria, com passagem aérea: Pablo Lima de Mendonça e Pastor Francisco. E a família Aragão, que o acolheu em Glória, nas pessoas de Dona Dete (Josefa Oliveira Aragão) e do empresário Almir de Jesus Aragão e, em Aracaju, Judite Oliveira Aragão.

A sua materialização se deu graças a sensibilidade do seu atual presidente que, junto com seus pares, empreendeu esforços sob a orientação invisível da Padroeira da Cidade.

AGRADECIMENTOS:

1º - À Direção desta Academia que, contrariando um adágio popular de que santo de casa não carece de reza porque não faz milagres, resolveu sufragar meu nome como membro correspondente deste Sodalício.

2 º - À minha irmandade - filhos de ZÉ MACHADO, aos do miolo, peço a compreensão, por citar somente os extremos:

a) Com Cecília Maria Oliveira Aragão - Dnª Dete, a grande acolhedora em Nossa Senhora da Glória e Manoel, que veio de Diamante do Norte - PR para este evento;

b) Com Maria Aninha de Jesus - Maria da Paz e Almir Aragão, artífice na construção dos elos que nos unem como herdeiros honrosos e honrados do Patriarca - José Machado Aragão.

Hoje é uma ocasião muito especial - Estou na CASA DA PALAVRA e, por isso mesmo, nunca careci tanto de humildade para retê-la na mente e humildade para soltá-la alcalina. O momento me impõe critério: falar somente do que penso que sei, para quem tenho certeza de que sabe.

Para os glorienses que ainda não me conhecem, traslado aqui os termos da minha identidade:

Nasci na Boca da Mata,

por ascensão hoje é Gloria,

carrego dentro do peito

o enredo da história,

tramado em fio de esperança

pontilhando a trajetória.


Aprendi a ler no mato,

sob a luz do candeeiro,

foi com o projeto Minerva

que abri um novo aceiro,

queimei a ignorância

com a tocha do facheiro.

E, por 'apreço ao meu lugar', vou recitar poema de Paulo Matricó, que traduz, com fidelidade, a arribada de gente do Nordeste para as Metrópoles:

"Eu viajei pra muito longe

Atrás de um mundo novo

E me realizar

E quanto mais distante eu fui

Mais perto me encontrei

Aqui do meu lugar


Se deita na minha lembrança

A correnteza mansa

Águas do meu riacho

Espelhos nos igarapés

Quando lavava os pés

E a sombra por debaixo


Progresso, eu sei, é necessário

Mas não há salário

Que pague o que eu tenho

Indústria que tudo refina

Mas só me fascina

O doce do engenho


Inconscientemente o povo

Corre atrás do novo

E perde o endereço

Ninguém trará de volta a feira

A roça e a cachoeira

Tudo tem seu preço."

Quero dissuadir alguém que, por hipótese, possa pensar: esse cidadão veio aqui hoje só pra falar da família é?; respondo, também hipoteticamente: e o que é de mais importante, abaixo da coroa de Nossa Senhora da Gloria, do que a família?

Assim, quero dedicar este discurso a pessoas muito especiais: minha mulher - Ângela, que não pode comparecer; meus filhos - Augusto e Beatriz; genro e nora - Pablo e Damires e, de maneira especialíssima aos netos - João Miguel e Heitor.

Manezinho Araújo teve seu poema - NOVO AMANHECER, acrescido da Homilia de Dom Pedro Casaldáliga, um visionário da TERRA SEM MALES e Renato Teixeira captou, de maneira magistral, este desejo, e nos ofereceu uma perspectiva consoladora. Sabedor de que uma única existência física não dá conta de tantas demandas represadas, indicou-nos uma luminosa vereda.


O que disse Manezinho Araújo (fragmento):

Eu jogo estrelas em cada noite escura

E na garganta ponho sempre uma canção

Nas auroras do meu peito há só ternura

A cada riso de um amigo eu dou a mão


O amor há de brotar, há de vingar e florescer

A Paz a de reinar, há de espalhar o bem-querer

O Mundo mudará, nós temos que convir

É só viver pro amanhã que há de vir.


O que disse Renato Teixeira(fragmento):


Amanhecer é uma lição do Universo

Que nos ensina que é preciso renascer

O novo, amanhece...


O que se diz na missa da TERRA SEM MALES:


"Em nome do Pai de todos os povos, Maíra de tudo, excelso Tupã

Em nome do filho que a todos os homens nos faz ser irmãos

No sangue mesclado com todos os sangues

Em nome da aliança da libertação

Em nome da luz de toda a cultura

Em nome do amor que está em todo amor

EM NOME DA TERRA SEM MALES

Perdida no lucro, ganhada na dor

Em nome da morte vencida, em nome da vida cantamos Senhor!"

Esse 'novo amanhecer' já deu sinais; a criação desta Academia é um archote que vem iluminar as mentes do nosso povo, a nova pedagogia de como cuidar da LÍNGUA, como instrumento de integração Nacional e cordialidade no trato das relações interpessoais.

A MATRONESSE

Falar da minha escolhida Matronesse, Ermínia Cecília Santos, é mergulhar em profundas lembranças e, conseqüentemente, muito mais profundas as emoções. É muito mais que a simples leitura dos assentamentos do seu registro de nascimento, é falar de um coração generoso, (quando o vocábulo generosidade nem sonhava entrar em moda) de qualidades que transcendem os atributos de um comum Cristão.

Poderia ter escolhido pessoas como o professor Darcy Ribeiro ou mesmo meu conterrâneo Manoel Bomfim, mas entendi que o desafio de alfabetizar crianças do sertão Sergipano na primeira metade do século passado representava um desafio imponderável, e ela, Ermínia Cecília Santos, que veio ao mundo exatamente em 09 de julho (1917), filha de Maria Tertulina de Jesus e Antônio Pereira Santos, lá na Fazenda Panelas, Município de Nossa Senhora da Glória no Estado de Sergipe, onde foi professora primária.

Formada pela própria mãe, ensinou por muitos anos na Escola Rural. A escola era vinculada à Secretaria estadual de Educação. Tratava-se de uma escola com uma única sala de aula multisseriada, atendendo

crianças e adolescentes da redondeza ( sobrinhos e filhos de amigos) desde a alfabetização à quarta série primária e ainda dava aula de catecismo, pois sempre foi muito religiosa, por isso mesmo doou sua casa à Igreja Católica, após seu falecimento, em 14 de dezembro de 2009. Ela foi minha primeira professora das primeiras letras, apesar de muito pequeno, lembro-me de como era a sua casa na Fazenda. Lamento que os compradores não tenham tido sensibilidade para manter de pé a casa e a capelinha.

Sempre que voltava a Sergipe em férias ia visitá-la e isto produzia muita emoção em ambos, especialmente quando a informei que exercia a profissão de professor pelo Estado do Rio de Janeiro, na capital, através de concurso público.Ela trazia na memória e me revelou que lá na escolinha da fazenda, eu e minha irmã Judite, abdicava-nos do recreio para ajudar os colegas que apresentavam dificuldades nas lições, já demonstrando, segundo ela, vocação para o Magistério: foi profética, a minha irmã Judite também tornou-se professora.

Para encerrar - Um último agradecimento e uma moção de louvor à Direção desta casa Legislativa, pela sensibilidade e apreço a cultura. Aceitem, portanto, todos, absolutamente todos, o meu fraterno, afetivo e efetivo abraço, em nome da Nossa Padroeira - Viva Nossa Senhora da Gloria!